Conto: Chapeuzinho Vermelho



  Essa história é, segundo especialistas, a que mais sofreu transformações desde sua origem, sempre com a ideia de tornar algumas imagens mais adequadas ao público infantil Todo conto terminava com uma lição, um ensinamento que todos deveriam seguir. Enquanto conto de fadas, Chapeuzinho Vermelho tem sua origem na França no século XIV. Publicado pelo francês Charles Pearrault, o conto narra a história de uma bela jovem – a mais bela da vila – conhecida por usar um capuz vermelho sobre a cabeça, que, a pedido da mãe, vai visitar a avó, que mora na floresta e está doente, para levar comidas caseiras. No caminho para a casa da avó, a jovem encontra um lobo faminto que pergunta o destino da jovem e o que ela carrega na cesta. 

   Consumido pela fome, o Lobo diz a Chapeuzinho que irá com ela para a casa da avó, porém por outro caminho, para ver quem chega primeiro. Assim, o Lobo pega o caminho mais curto e vai o mais depressa possível, enquanto Chapeuzinho segue por seu caminho admirando a paisagem e brincando com os animais que encontra. O Lobo, ao chegar à casa da avó, imita a garota e consegue entrar na casa, come a avó e toma seu lugar na cama, escondida pelas cobertas. 

   Chapeuzinho, algum tempo depois, chega a casa e o Lobo, imitando a avó, logo pede para que ela se aproxime e deite-se com ele. A garota desconfia e questiona a avó a respeito das mudanças. “Avó, que grandes dentes tem!”, a garota finalmente exclama, dando a oportunidade de o Lobo dizer a famosa frase: “É pra te comer!”. Devorando, assim, a garota e finalizando a história com a moral de que não se deve falar com estranhos, especialmente se você é uma garota.

AS VÁRIAS FACES DE 
CHAPEUZINHO VERMELHO
   Os contos deixados tanto pelos irmãos Grimm como por Charles Perrault foram recolhidos de lendas e tradições locais que, durante a Idade Média, percorreram os povos de toda a Europa. Muitos deles refletem a psicologia da época, suas crenças, seus mitos. Enquanto estavam apenas na oralidade, essas histórias não eram dedicadas ao público infantil, pois tinham um conteúdo violento.

ADULTA
 Segundo a mostra Chapeuzinho Vermelho e o Lobo Mau, no museu do Livro Ilustrado Burg Wissem (Alemanha), essa figura nem sempre foi uma loura menininha. Ela é muito mais antiga do que o conto dos Irmãos Grimm. Na verdade, a história de Chapeuzinho Vermelho se iniciou na França. 

UM LOBO QUE NÃO ERA BOBO
  Em 1697, Charles Perrault transcreveu pela primeira vez a narrativa do "Petit Chaperon Rouge". Aqui, o lobo mau é um sedutor e Chapeuzinho, uma charmosa jovem. Na época, a história era contada às jovens da corte francesa como uma advertência contra a sedução masculina.

DEVORADA COM CAPINHA E TUDO
Da França, a charmosa Chapeuzinho Vermelho passou para o inglês em 1729. Aqui também não havia final feliz e tanto ela 
quanto a sua vovó eram devoradas pelo lobo mau. Não havia caçador nem salvação. E foi na versão inglesa que "Little Red Hiding Rood" passou a vestir não somente um gorrinho, mas também uma capinha de montaria vermelha.

COM FINAL FELIZ E INOCÊNCIA
 A primeira Chapeuzinho Vermelho alemã não foi dos Irmãos Grimm, mas de Ludwig Tieck. O fim trágico da versão francesa não agradava ao escritor romântico, que introduziu o Caçador como salvador da garota. Somente em 1812 os Irmãos Grimm atribuíam um caráter inocente à personagem, que ficou mais jovem e menor, evitando qualquer insinuação sexual. 

AUTODETERMINAÇÃO E RESISTÊNCIA
O tema Chapeuzinho Vermelho não sai de moda, sendo reinterpretado inúmeras vezes. O ilustrador francês Geoffroy de Pennart fez dela uma garota rebelde, que ataca até mesmo o Lobo Mau. E assim promove uma nova imagem infantil: as crianças não devem mais ser educadas para a obediência, mas sim para ter vontade própria e resistência. 

LIÇÃO SEM VIOLÊNCIA
Na década de 1980, no entanto, a educação sem violência estava em alta. Assim, o Lobo Mau não devorava mais Chapeuzinho de forma sanguinolenta, mas simplesmente assumia o controle sobre ela, amarrando-a. Isso fica evidenciado num livro de Bruno de la Salleda e da ilustradora Laurence Batigne.
Adaptado de: DW


UM CONTO DE FADAS DOS IRMÃOS GRIMM

   O clássico conto Chapeuzinho Vermelho, tal como conhecemos hoje, foi incluído na coletânea dos Irmãos Grimm em 1812. Para isso, eles se basearam na obra do alemão Ludwig Tieck intitulada “Vida e morte da pequena Chapeuzinho Vermelho” em que estava incluído — diferente do conto de Charles Perrault – o personagem do caçador. Retiraram quaisquer rastros de violência e deram à história um final feliz.


Houve uma vez uma graciosa menina; quem a via ficava logo gostando dela, assim como ela gostava de todos; particularmente, amava a avozinha, que não sabia o que dar e o que fazer pela netinha. Certa vez, presenteou-a com um chapeuzinho de veludo vermelho e, porque lhe ficava muito bem, a menina não mais quis usar outro e acabou ficando com o apelido de Chapeuzinho Vermelho. Um dia, a mãe chamou-a e disse-lhe:
- Vem cá, Chapeuzinho Vermelho; aqui tens um pedaço de bolo e uma garrafa de vinho; leva tudo para a vovó; ela está doente e fraca e com isso se restabelecerá. Põe-te a caminho antes que o sol esquente muito e, quando fores, comporta-te direito; não saias do caminho, senão cais e quebras a garrafa e a vovó ficará sem nada. Quando entrares em seu quarto, não te esqueças de dizer "bom-dia, vovó," ao invés de mexericar pelos cantos.
- Farei tudo direitinho, - disse Chapeuzinho Vermelho à mãe, e despediu-se. Quando Chapeuzinho Vermelho chegou à floresta, encontrou o lobo; não sabendo, porém, que animal perverso era ele, não sentiu medo.
- Bom dia, Chapeuzinho Vermelho, - disse o lobo todo dengoso.
- Muito obrigada, lobo.
- Aonde vais, assim tão cedo, Chapeuzinho Vermelho?
- Vou à casa da vovó.
- E que levas aí nesse cestinho?
- Levo bolo e vinho. Assamos o bolo ontem, assim a vovó, que está adoentada e muito fraca, ficará contente, tendo com que se fortificar.
- Onde mora tua vovó, Chapeuzinho Vermelho?
- Mora a um bom quarto de hora daqui, na floresta, debaixo de três grandes carvalhos; a casa está cercada de nogueiras, acho que o sabes, - disse Chapeuzinho Vermelho.
Enquanto isso, o lobo ia pensando: "esta meninazinha delicada é um quitute delicioso, certamente mais apetitosa que a avó; devo agir com esperteza para pegar as duas." Andou um trecho de caminho ao lado de Chapeuzinho Vermelho e foi insinuando:
- Olha, Chapeuzinho Vermelho, que lindas flores! Por quê não olhas ao redor de ti? Creio que nem sequer ouves o canto mavioso dos pássaros! Andas tão ensimesmada como se fosses para a escola, ao passo que é tão divertido tudo aqui na floresta!
Chapeuzinho Vermelho ergueu os olhos e, quando viu os raios do sol  dançando   por entre as árvores, e à sua volta a grande quantidade de lindas flores, pensou: "Se levar para a vovó um buquê viçoso, ela certamente ficará contente; é tão cedo ainda que chegarei bem a tempo." Saiu da estrada e penetrou na floresta em busca de flores. Tendo apanhado uma, achava que mais adiante encontraria outra mais bela e, assim, ia avançando e aprofundando-se cada vez mais pela floresta adentro.
Enquanto isso, o lobo foi correndo à casa da vovó e bateu na porta.
- Quem está batendo? - perguntou a avó.
- Sou eu, Chapeuzinho Vermelho, trago vinho e bolo, abre-me.
- Levanta a taramela, - disse-lhe a avó; - estou muito fraca e não posso levantar-me da cama.
O lobo levantou a taramela, a porta escancarou-se e, sem dizer palavra, precipitou-se para a cama da avozinha e engoliu-a. Depois, vestiu a roupa e a touca dela; deitou-se na cama e fechou o cortinado.
Entretanto, Chapeuzinho Vermelho ficara correndo de um lado para outro a colher flores. Tendo colhido tantas que quase não podia carregar, lembrou-se da avó e foi correndo para a casa dela. Lá chegando, admirou-se de estar a porta escancarada; entrou e na sala teve uma impressão tão esquisita que pensou: "Oh, meu Deus, que medo tenho hoje! Das outras vezes, sentia-me tão bem aqui com a vovó!" Então disse alto:
- Bom dia, vovó! - mas ninguém respondeu.
Acercou-se da cama e abriu o cortinado: a vovó estava deitada, com a touca caída no rosto e tinha um aspecto muito esquisito.
- Oh, vovó, que orelhas tão grandes tens!
- São para melhor te ouvir.
- Oh, vovó, que olhos tão grandes tens!
- São para melhor te ver.
- Oh, vovó, que mãos enormes tens!
- São para melhor te agarrar.
- Mas vovó, que boca medonha tens!
- É para melhor te devorar.
Dizendo isso, o lobo pulou da cama e engoliu a pobre Chapeuzinho Vermelho.
Tendo assim satisfeito o apetite, voltou para a cama, ferrou no sono e começou a roncar sonoramente. Justamente, nesse momento, ia passando em frente à casa o caçador, que ouvindo aquele ronco, pensou: "Como ronca a velha Senhora! É melhor dar uma olhadela a ver se está se sentindo mal."
Entrou no quarto e aproximou-se da cama; ao ver o lobo, disse:
- Eis-te aqui, velho impenitente! Há muito tempo, venho-te procurando!
Quis dar-lhe um tiro, mas lembrou-se de que o lobo poderia ter comido a avó e que talvez ainda fosse possível salvá-la; então pegou uma tesoura e pôs-se a cortar- lhe a barriga, cuidadosamente, enquanto ele dormia. Após o segundo corte, viu brilhar o chapeuzinho vermelho e, após mais outros cortes, a menina pulou para fora, gritando:
- Ai que medo eu tive! Como estava escuro na barriga do lobo!
Em seguida, saiu também a vovó, ainda com vida, embora respirando com dificuldade. E Chapeuzinho Vermelho correu a buscar grandes pedras e com elas encheram a barriga do lobo. Quando este acordou e tentou fugir, as pedras pesavam tanto que deu um trambolhão e morreu.
Os três alegraram-se, imensamente, com isso. O caçador esfolou o lobo e levou a pele para casa; a vovó comeu o bolo e bebeu o vinho trazidos por Chapeuzinho Vermelho e logo sentiu-se completamente reanimada; enquanto isso, Chapeuzinho Vermelho dizia de si para si: "Nunca mais sairás da estrada para correr pela floresta, quando a mamãe o proibir!".

Fonte: Grimm Stories 

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